Você já ouviu frases como: “Depressão não é doença, é preguiça, falta de força de vontade. Levanta, ânimo” (depressão). “Vai gastar essa energia, vai correr, isso é frescura” (transtorno de ansiedade). “Sossega na carteira. Você não para quieto” (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade).
Psicofobia é o preconceito contra as pessoas que têm transtornos e deficiências mentais. E infelizmente, isso ainda é muito comum.
Frases como essas ditas acima são frequentemente ouvidas por portadores de doenças mentais, demonstrando que ainda somos carentes de informação de boa qualidade.
As doenças mentais, até pouco tempo atrás tinham possibilidades terapêuticas limitadas, devido às perspectivas farmacológicas precárias. Então, essas pessoas eram renegadas pela família e sociedade, e muitas passaram a maior parte da vida em instituições psiquiátricas conhecidas como manicômios.
No entanto, a realidade tem sido modificada. Novos fármacos surgiram, tratamentos cada vez mais eficazes e com menos efeitos colaterais. Isso tem feito com que os pacientes tenham melhor prognóstico e qualidade de vida. Mas por que eles ainda sofrem preconceito? Vários são os motivos, como estigma, medo das medicações, mídia que contribui para desinformação.
Os pacientes ainda sofrem estigma da doença mental. E o significado de estigma é marca, cicatriz. É como se fossem taxados de “loucos” e sem possibilidade de recuperação.
Muitos deles, pela vergonha da doença, deixam de buscar tratamento com psiquiatras e acabam procurando outros especialistas como cardiologistas, neurologistas, dentre outros. Isso, infelizmente, pode piorar o prognóstico, atrasar o tratamento adequado, aumentar a possibilidade de gravidade e sequelas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a taxa de esquizofrenia não tratada no mundo é de 32%; no Brasil a taxa é de 58%, pois estigma gera auto-estigma e dificulta o diagnóstico e tratamento corretos. É importante que se busque o psiquiatra, pois é ele quem cuida das doenças dos humores, dos afetos, das emoções.
Ainda existe o preconceito em torno do uso de psicotrópicos. Acredita-se muito que as medicações podem “mudar a personalidade”, “acabar com nossa espontaneidade”, “diminuir a criatividade”, “causar dependência”, dentre outras inverdades.
As medicações psicotrópicas como os antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores de humor são medicações seguras que existem para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Algumas podem melhorar funções cognitivas e até evitar o declínio cognitivo que as próprias patologias psiquiátricas podem causar na sua evolução.
Além disso, ainda temos vinculados pela mídia, informações incorretas sobre as doenças mentais e seus tratamentos. A eletroconvulsoterapia (conhecida popularmente como eletrochoque) é um tratamento muito efetivo para quadros depressivos graves, por exemplo. Possui menos efeitos colaterais do que os próprios antidepressivos. Mas é vinculada de maneira inadequada, fazendo-nos acreditar que seja método de tortura e doloroso, o que contribui para o medo e o preconceito do tratamento psiquiátrico. Muitos ainda acreditam que pacientes psiquiátricos sejam perigosos ou violentos. Segundo pesquisas, 93% das pessoas com doença mental não são violentas e 95% dos homicídios são cometidos por pessoas que não sofrem de transtornos mentais.
Mas, 30% das reportagens relacionadas a esquizofrenia são sobre crime e violência, enquanto 37% apenas são sobre saúde, segundo pesquisa realizada no Brasil.
As dimensões do estigma são:
E para combatermos todas essas dimensões é preciso informar. Sendo assim, foi criado o Dia Nacional de Enfrentamento da Psicofobia, em 12 de abril.
Somente mudaremos a realidade da saúde mental no Brasil quando diminuirmos o preconceito às doenças psiquiátricas, aos doentes, às suas famílias, às instituições que os tratam, aos medicamentos psicotrópicos e aos profissionais de saúde mental.