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Dependência Química

Este breve texto inicia-se pontuando os principais critérios para definir a dependência química. Para isso, são considerados os pontos elaborados na décima versão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), encontrados em SUPERA (2017) São eles:

    [...] um diagnóstico definitivo de dependência só pode ser feito se três ou mais dos seguintes critérios tiverem sido detalhados ou exibidos em algum momento do último ano (últimos 12 meses): 1. Forte desejo ou senso de compulsão para consumir a substância; 2. Dificuldades em controlar o comportamento de consumir a substância, em termos de início, término e níveis de consumo; 3. Estado de abstinência fisiológica, quando o uso da substância cessou ou foi reduzido, como evidenciado por síndrome de abstinência característica para a substância, ou o uso da mesma substância com a intenção de aliviar ou evitar sintomas de abstinência; 4. Evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância psicoativa são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas; 5. Abandono progressivo de prazeres e interesses alternativos, em favor do uso da substância psicoativa, aumento da quantidade de tempo necessário para obter ou ingerir a substância ou para se recuperar de seus efeitos; persistência no uso da substância, a despeito de evidência clara de consequências manifestamente nocivas, tais como: danos ao fígado, por consumo excessivo de bebidas alcoólicas; estados de humor depressivos, consequentes a períodos de consumo excessivo da substância; ou comprometimento do funcionamento cognitivo, relacionado à droga. Nesse caso, deve-se fazer esforço para determinar se o usuário estava realmente (ou se poderia esperar que estivesse) consciente da natureza e extensão do dano (p. 16).

Quando se fala em dependência química, primeiramente é importante compreender que ela pode ocorrer em relação a diversas substâncias químicas (lícitas e ilícitas), tais como: álcool, cafeína, Cannabis, alucinógenos, inalantes, opioides, ansiolíticos, estimulantes, sedativos, dentre outras. Tais substâncias podem ser chamadas de “drogas”, uma vez que, recebe tal denominação qualquer substância que é capaz de modificar a função dos organismos vivos, ocasionando alterações fisiológicas ou de comportamento (definição da Organização Mundial de Saúde).

Imagem Dependência Química

As drogas que aumentam a atividade do Sistema Nervoso Central (SNC) são denominadas estimulantes (ex.: cafeína, anfetamina, cocaína); as que reduzem a atividade do SNC, depressoras (ex.: álcool, calmantes, inalantes); e, por fim, as que alteram a atividade do SNC são chamadas de perturbadoras (ex.: maconha, LSD). Consumidas em excesso, as drogas ativam diretamente o chamado sistema de recompensa do cérebro, o qual é responsável por receber os estímulos de prazer e transmiti-los ao restante do corpo. Tal sistema é acionado, normalmente, sempre na presença de algum estímulo prazeroso (como por exemplo, na saciação da fome, no sexo, etc). Porém, as drogas realizam a ativação imediata deste sistema, de modo que as demais atividades podem tornar-se secundárias ao alcance de sensações prazerosas. Dessa forma, a dependência química, em última análise, configura-se na busca pela obtenção imediata de prazer.

Entretanto, é essencial que seja considerada a complexidade desta questão, levando-se em conta os diversos fatores que atuam – concomitantemente – para a configuração de uma dependência química. Há fatores genéticos, ambientais, psicológicos, sociais, dentre outros. Uma vez que a dependência química é multideterminada e, portanto, complexa, é fundamental que seu tratamento possa alcançar tal amplitude. Portanto, um tratamento que vise intervenções de nível biológico, psicológico e social.

Autoras
Julia Rangel Silva e Marília Querino Fernandes

 

Referência bibliográfica

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.

SUPERA: Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Detecção do uso e diagnóstico da dependência de substâncias psicoativas: módulo 3. – 11. ed. – Brasília : Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2017. 70 p. – (SUPERA: Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento / Organizadoras Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte, Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni)