Despertador toca.
Enquanto desperta oficialmente abre redes sociais, whatsapp, instagram, etc. Toma um banho. Durante o café da manhã, uma rápida olhadinha no celular. Entra no carro em direção ao trabalho. No semáforo: mais uma checada. Durante o expediente, vários acessos, além de e-mails e redes coorporativas. Almoço: postagem no facebook, afinal ele perguntou sobre o que você estava pensando, não é? Durante o restante do dia várias olhadas, pois hoje o celular é nossa ferramenta de trabalho – dizemos para nós mesmos na esperança de nos convencermos de que estamos no controle. Levamos o carregador ou bateria extra pra onde formos; pois ficar sem celular é impossível, ou causa ansiedade imaginar-se sem ele. Fim do dia: é hora de encontrar a família e falar sobre o cotidiano. Mas, uma olhada na tela enquanto jantamos não tem nada demais. Antes de deitar: nova checagem, troca de mensagens, vídeos engraçados, e-mails e cama.
Despertador toca…
A internet veio para ficar, e chegou cheia de vantagens, sabemos disso. No entanto, o que tem nos preocupado como especialistas é o excesso e as fronteiras que ela tem quebrado, como regras sociais, horário de lazer, dentre outras coisas. Isso tem mudado nossa maneira de nos relacionarmos com o outro. É possível falar com quem desejamos, independente da distância. Isso nos fez desvalorizar quem está por perto?
Valorizamos conversas triviais, ficamos hipnotizados, de cabeça baixa, interagindo com o mundo todo virtual e pouco com o real. Passamos a não tolerar o sinal de conversas e atualizações e precisamos acessá-los. Temos a sensação de que é preciso estar sempre ali, disponível, pronto e alerta. A internet entretém, às vezes vicia e por diversas vezes esconde vazios interiores.
Pesquisas demonstram que desbloqueamos o celular entre 80 e 110 vezes ao dia.
No entanto, isso cobra um preço. Estamos cada vez mais ansiosos, com maior dificuldade para relaxar e desconectar, com falta de gestão de tempo próprio e às vezes, dependência.
A dependência de internet é um fenômeno relativamente recente, envolve o uso do computadores, tablets e celulares de forma errática, prevalecendo esse uso desenfreado sobre necessidades básicas do cotidiano. Isso acarreta prejuízos sociais, familiares e laborais; além de sintomas de abstinência manifestados por ansiedade, tensão e irritabilidade. Essa dependência leva a sensação de perda da capacidade de controle sobre frequência, duração do uso, momento e local. O mecanismo psicopatológico ainda não é totalmente desvendado, mas podemos classificar o uso excessivo e sem controle da internet como um tipo de dependência não química.
Se vivemos num país cuja incidência de transtornos depressivos e ansiosos é acima da média mundial, precisamos refletir sobre isso.
E então? Devemos todos jogar fora o celular e viver sem internet? Com certeza não.
Como tudo na vida, o equilíbrio é fundamental. Sabemos que o tempo de exposição à telas para crianças é bem estabelecido pela Academia Americana de Pediatria. Por que não estabelecermos para nós também?
Trocar 30 minutos diários de conexão de internet por atividade física ao ar livre, por exemplo, produzirá mais dopamina e bem-estar que muitas postagens do facebook.
Afinal, (des)conectar é preciso.